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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Jovem, coragem e fidelidade!


Madri, 21 agosto.- Papa conclui visita à Espanha, pede coragem a católicos e fidelidade à Igreja

Em uma das maiores concentrações de católicos na Espanha, o papa Bento XVI pediu neste domingo aos jovens reunidos em Madri na 26ª Jornada Mundial da Juventude que "não tenham medo" de proclamar o que são, mas advertiu que "não se pode seguir Jesus sem seguir a Igreja"



Diante de um público estimado de 1,5 milhão de pessoas, segundo o Vaticano, o papa encerrou na base aérea de Cuatro Vientos o encontro mundial de jovens católicos, aos quais pediu que divulguem o evangelho "mesmo onde há rejeição ou indiferença".

"Sejam testemunhas valentes e sem complexos. Não tenham medo de ser católicos, dando sempre testemunho disso a sua volta com humildade e sinceridade. Que a Igreja encontre em vocês os missionários dignos do Evangelho", declarou o pontífice ao término de uma cerimônia solene à luz do Sol, após a forte tempestade e vendaval da noite de sábado.

A tempestade da noite passada, que obrigou o papa a resumir seu discurso e a usar um guarda-chuva, danificou as 17 capelas onde estavam as 600 mil hóstias que seriam entregues neste sábado em comunhão, que não pôde ser celebrada. "O Santo Padre o sente profundamente", disse à Agência Efe o porta-voz vaticano, Federico Lombardi.

No início da missa, Bento XVI agradeceu aos jovens pelo "esforço e resistência" durante a vigília e pelo "grande sacrifício" que mostraram, pois, mesmo durante o vendaval, os jovens seguiram cantando e animando o evento.

Em uma homilia na qual exortou também aos jovens europeus a ajudar à Europa a "encontrar" suas raízes cristãs, o papa lhes advertiu que não se pode seguir Jesus sem seguir a Igreja.

"Seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode seguir sozinho. Quem cede à tentação de seguir por conta própria ou de viver a fé conforme a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de não encontrá-la ou de acabar seguindo uma imagem falsa dela", destacou o pontífice.

O papa convidou-os a responder com "generosidade e coragem" a Cristo e lhes pediu que "não guardem" para si, mas anunciem aos demais, "já que o mundo precisa do testemunho de sua fé, certamente precisa de Deus".

Bento XVI encorajou-os a anunciar sua fé em Cristo, não só onde é rejeitado ou visto com indiferença, nas terras e países "onde há multidões de jovens que aspiram a coisas maiores e não se deixam seduzir pelas falsas promessas de um estilo de vida sem Deus".

O bispo de Roma disse que a Igreja "não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está estreitamente unida a Deus".

"Não se pode separar Cristo da Igreja, assim como não se pode separar a cabeça do corpo. A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor", enfatizou.

Bento XVI afirmou que, para que "cresça" a amizade dos jovens com Cristo, é "fundamental" que façam parte das paróquias, comunidades e movimentos, "assim como a participação na missa dominical, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e meditação da palavra de Deus".

No final da missa, Bento XVI anunciou que o Rio de Janeiro será a sede da 27ª Jornada Mundial da Juventude, que será realizada em 2013. O papa, de 84 anos, expressou seu desejo de viajar ao Rio para presidir o evento.

A missa na base aérea de Cuatro Vientos foi assistida pelos reis da Espanha e pelos ministros da Presidência e Fomento, Ramón Jaúregui e José Blanco, membros do Governo de José Luis Rodríguez Zapatero.

Ao todo, 14 mil sacerdotes concelebraram com o papa, assim como 900 bispos e 60 cardeais.

Bento XVI usou um cálice espanhol do século XVII e o vinho da missa foi da cidade de Jerez. O papa retorna esta noite a Roma.

Homilia do Papa na missa conclusiva da JMJ

Queridos jovens,
Com a celebração da Eucaristia, chegamos ao momento culminante desta Jornada Mundial da Juventude. Ao ver-vos aqui, vindos em grande número de todas as partes, o meu coração enche-se de alegria, pensando no afecto especial com que Jesus vos olha. Sim, o Senhor vos quer bem e vos chama seus amigos (cf. Jo 15, 15). Ele vem ter convosco e deseja acompanhar-vos no vosso caminho, para vos abrir as portas duma vida plena e tornar-vos participantes da sua relação íntima com o Pai. Pela nossa parte, conscientes da grandeza do seu amor, desejamos corresponder, com toda a generosidade, a esta manifestação de predilecção com o propósito de partilhar também com os demais a alegria que recebemos. Na actualidade, são certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?

No evangelho que ouvimos (cf. Mt 16, 13-20), vemos representadas, de certo modo, duas formas diferentes de conhecer Cristo. O primeiro consistiria num conhecimento externo, caracterizado pela opinião corrente. À pergunta de Jesus: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?», os discípulos respondem: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas». Isto é, considera-se Cristo como mais um personagem religioso junto aos que já são conhecidos. Depois, dirigindo-se pessoalmente aos discípulos, Jesus pergunta-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro responde formulando a primeira confissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». A fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade.

A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?», no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele. Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados.

E, dado que supõe seguir o Mestre, a fé tem que se consolidar e crescer, tornar-se mais profunda e madura, à medida que se intensifica e fortalece a relação com Jesus, a intimidade com Ele. Também Pedro e os outros apóstolos tiveram que avançar por este caminho, até que o encontro com o Senhor ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena.

Queridos jovens, Cristo hoje também se dirige a vós com a mesma pergunta que fez aos apóstolos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Respondei-Lhe com generosidade e coragem, como corresponde a um coração jovem como o vosso. Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nuca me abandone.

Na sua reposta à confissão de Pedro, Jesus fala da sua Igreja: «Também Eu te digo: Tu é Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja». Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo. Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1 Cor 12, 12). A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza.

Queridos jovens, permiti que, como Sucessor de Pedro, vos convide a fortalecer esta fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da vossa vida. Mas permiti também que vos recorde que seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele.

Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus.

E, desta amizade com Jesus, nascerá também o impulso que leva a dar testemunho da fé nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo, e não O dar a conhecer aos outros. Por isso, não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da vossa fé; necessita, sem dúvida, de Deus. Penso que a vossa presença aqui, jovens vindos dos cinco continentes, é uma prova maravilhosa da fecundidade do mandato de Cristo à Igreja: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15). Incumbe sobre vós também a tarefa extraordinária de ser discípulos e missionários de Cristo noutras terras e países onde há multidões de jovens que aspiram a coisas maiores e, vislumbrando em seus corações a possibilidade de valores mais autênticos, não se deixam seduzir pelas falsas promessas dum estilo de vida sem Deus.

Queridos jovens, rezo por vós com todo o afecto do meu coração. Encomendo-vos à Virgem Maria, para que Ela sempre vos acompanhe com a sua intercessão materna e vos ensine e fidelidade à Palavra de Deus. Peço-vos também que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na Igreja, pastores e fiéis, nos aproximemos de dia para dia sempre mais do Senhor, para crescermos em santidade de vida e darmos assim um testemunho eficaz de que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os homens e a fonte viva da sua esperança. Amen.

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