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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Hora de pedir perdão - Pedofilia




Por: José Antônio Faro

Desde que voltou da Europa, onde concluiu os seus estudos de Filosofia e de Teologia, o professor doutor em Pedagogia e professor associado de Psicologia da Religião no programa de pós-graduação de Ciências da Religião da PUC-SP,  Pe. Edênio Valle, presta assessoria ao Conselho dos Religiosos do Brasil (CRB) e à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no campo da psicoterapia e da relação desta com a vida consagrada. Sacerdote há 49 anos e psicólogo há 45, o professor Edênio acumulou uma ampla experiência no acompanhamento psicológico e humano de milhares de pessoas consagradas na vida sacerdotal e na vida religiosa, além de candidatos a esses estados de vida.



Uma vez por mês, ele se encontra com um grupo de 15 psicólogos e formadores, que atuam em seminários, para a discussão e o aprofundamento das questões ligadas à vida psicológica e afetiva dos sacerdotes. Nessas reuniões, emergem a questão da sexualidade e dos comportamentos anômalos nesse campo.


Entrevistado em seu gabinete de trabalho, ele traçou, de forma objetiva e espontânea, um quadro do desafio de se formar sacerdotes maduros afetivamente, capazes de viverem de maneira coerente e íntegra o serviço à comunidade, que caracteriza o ministério presbiteral. O entrevistado apresenta as deficiências da formação sacerdotal e fala da necessidade de fomentar um maior senso de comunhão e de fraternidade nas comunidades.
A seguir os principais momentos da entrevista.



Cidade Nova - Na sua opinião, por que a mídia está dando tanto destaque aos casos de pedofilia entre os padres?


Edênio Valle - Eu acredito que isso acontece por um jogo de interesses. A grande mídia - os grandes grupos que controlam a opinião pública mundial e nacional - está interessada na audiência. Isso, concretamente, significa que o interesse é ganhar mais dinheiro, mais publicidade.
Para conseguir esses objetivos, a mídia acentua casos isolados. É preciso jogar um escândalo atrás do outro. Cria-se, assim, uma espécie de modismo. Se a revista semanal "A" faz capa sobre um certo assunto, um mês depois, a revista "B" vai tratar do mesmo assunto e a "C" também. E se for um tema relacionado à Igreja, a mídia católica também se posiciona e entra nesse jogo midiático. É um fenômeno contemporâneo de uma sociedade em que as notícias correm com uma velocidade incrível.


Depois, no ônibus, você começa a ouvir: "Puxa, será que é verdade o que estão falando do papa?" Assim, começa a confusão, a má informação, porque ninguém lê a notícia até o fim. É o fenômeno do boato, do som que se repercute.
E as pessoas começam a reproduzir as mesmas coisas que leram no jornal ou ouviram na televisão, poucas se in-formam sobre o que real¬mente aconteceu.
Depois existe um interesse de um certo grupo em envolver o papa nessa questão.



Mas qual seria o interesse em envolver o papa?



Eu acho que aí entra outro aspecto: é o fato de a Igreja Católica insistir em afirmar uma ética sexual que já foi atrope-lada pelas transformações da sociedade, no que diz respeito, por exemplo, ao uso do preservativo, ao aborto, ao amor livre.
A Igreja faz isso pensando no bem das pessoas. Mas as pessoas sentem isso como um ato autoritário e, então, reagem. E como a Igreja continua insistindo, contra a opinião da maioria, o celibato também é questionado.



O que o senhor considera necessário esclarecer sobre o tema da pedofilia e que, normalmente, a mídia não diz?

Em primeiro lugar, acho que é preciso fazer três distinções sobre o fenômeno da pedofilia.
A primeira coisa importante é diferenciar a pedofilia da tendência homossexual. De fato, muitos pedófilos são heterossexuais.
A segunda distinção é entre o comportamento pedofílico que tem por trás uma neurose sexual, uma obsessão, uma distorção total da personalidade, e os episódios de pedofilia. Não são a mesma coisa. Quando se fala de pedofilia como neurose sexual, estamos falando de mecanismos, de estruturas que causam um desequilíbrio na raiz da pessoa.


A terceira distinção é entre a pedofilia propriamente dita e os casos que acontecem no processo de amadurecimento sexual de crianças e adolescentes. É preciso levar em consideração as questões culturais. É muito comum, por exemplo, que meninos de 14 anos abusem de crianças abaixo de oito ou nove anos.
Esses meninos estão despertando para a sexualidade.
Não é justo você igualar tudo. É preciso ter ponderação.



A incidência de casos de pedofilia está aumentando?

Não dá para afirmar isso. O que está acontecendo agora é que os casos começam a aparecer mais. Não existem números para comparar. Mas é possível que agora haja mais casos de pedofilia devido à cultura permissiva em que vivemos.
A pedofilia é um fenômeno recorrente há séculos na cultura ocidental.
Na Igreja, os casos que se tornavam públicos eram muito raros. Por serem considerados muito graves eram chamados, até a última reforma do Direito Canônico, com João Paulo II, de crimen horrendum. O padre não podia dar absolvição a alguém que cometesse esse pecado e a questão deveria ser encaminhada ao papa.
Você pergunta se havia mais casos. Eu não sei.



Na sua opinião, o problema da pedofilia entre os sacerdotes está inserido no fenômeno da pedofilia em geral ou tem alguma particularidade?



Eu diria que, enquanto um fenômeno de comportamento humano, está perfeitamente inserido naquilo que é a dinâmica psicoafetiva, psicossexual do indivíduo que tem uma labilidade na identidade sexual que se manifesta também na pedofilia. Mas essa labilidade pode se manifestar de diversas outras formas. Porém, é a pedofilia que é considerada crime.
Eu acredito que é preciso entender o problema da pedofilia no ser humano, na cultura ocidental, na cultura brasileira, inclusive no âmbito da antropologia, para aí poder entender o que ocorre num grupo mais restrito como é o clero.


Por outro lado, eu acho que, no clero, esse fenômeno tem algumas especificidades. Na PUC de São Paulo, onde sou professor há mais de 40 anos, acompanho um grupo de pesquisa, certificado no Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e na universidade, que se chama "Psicoterapia e religiosidade dos clérigos: peculiaridades". Justamente, por-que existem peculiaridades.


Quando o psicoterapeuta atende um padre, pedófilo ou não, percebe que o seu caso tem algumas peculiaridades em relação, por exemplo, a um médico, a um militar, a um professor, a um comerciante. É importante ter presente essas diferenciações para poder ajudá-lo.
Um dos meus orientandos, psicoterapeuta há 35 anos, fez a tese de doutorado sobre o que caracteriza um padre que faz psicoterapia. Ele identifica dez pontos em que o padre se distingue dos outros pacientes.



Essa tipicidade está ligada ao estado de vida do padre? Atualmente, fala-se muito da relação entre o celibato e a pedofilia. Como o senhor vê isso?

Como em todos os casos, a pedofilia no padre está ligada a diversos fatores. Aliás, a pedofilia está presente em todos os grupos, em agentes de todas as religiões ou denominações cristãs.



Mas a questão é: por que a pedofilia se manifesta nos padres?



Acho que esse fenômeno tem uma relação com o estilo de vida próprio do padre. Durante séculos, esse estilo de vida era mais protegido. Agora está se desagregando porque o senso de identidade sexual de muitos padres está se tornando muito lábil devido à imaturidade sexual de muitos deles.
Na conjuntura atual da vida dos padres, houve a perda de uma referência clara, como havia antes do Concílio Vaticano II. Naquele momento, se sabia claramente qual a identidade do padre. Atualmente, existe uma permissividade muito grande, uma grande pluralidade de comportamentos. Parece que isso mexeu com o desenvolvimento da pessoa, desenvolvimento que compreende a afetividade e a sexualidade.


O comportamento pedofílico é sintoma de uma imaturidade mais profunda, de uma imaturidade basicamente sexual. Por isso, eu acho que a opção à vida celibatária deve ser feita na idade adulta, depois de o indivíduo adquirir uma maturidade afetiva e sexual.
Agora, querer responsabilizar o celibato por tudo não é correto. Há padres celibatários - e é a grande maioria, na ordem de uns 97% - que não são pedófilos, que não têm tendência à pedofilia.


Além disso, precisamos entender que todo comportamento sexual, maduro ou imaturo, depende de cada indivíduo. Precisa ser visto no contexto evolutivo de cada indivíduo, também na sua espiritualidade. Uma espiritualidade que não esteja ancorada num psiquismo saudável mostrará, num certo momento, sinais de insuficiência, de inadequação.



O senhor acha que o momento que a Igreja está passando pode ser uma oportunidade para ela repensar na formação dos padres?



Não só uma oportunidade, mas uma necessidade, uma exigência.
Em todo caso, essa mudança no processo de formação já vem acontecendo há mais de 30 anos. O magistério e a hierarquia da Igreja Católica têm escrito muito sobre esse assunto. Inclusive, com a ajuda da ciência.
A Igreja começou a estabelecer, por exemplo, um diálogo inteligente, culto, bem-informado entre teólogos e psicanalistas. E, a partir daí, começou a fazer uma série de revisões no seu modo de encarar os problemas relacionados às questões de sexualidade e de afetividade.
Existem documentos diretamente voltados para a formação do presbitério, para a admissão à vida consagrada ou aos votos. E eles procedem da Congregação para a Doutrina da Fé, da Congregação para a Educação Católica, da Congregação para a Vida Consagrada.



O que, na sua opinião, poderia mudar em relação à formação dos candidatos à vida religiosa ou sacerdotal?


O primeiro aspecto é o seguinte - e uma das recentes instruções da Congregação para a Educação Católica (CEC) vai nessa direção - é preciso respeitar os critérios para a admissão de pessoas com tendências homossexuais e aplicá-los. Isso significa que o processo de formação será mais rigoroso. Se os responsáveis pela formação notam que existe realmente uma indefinição de sexualidade no candidato a esses estados de vida, é melhor não aceitá-lo no seminário, porque ele não tem as características necessárias para a vida consagrada.


O documento da CEC aconselha que o candidato só continue o seu percurso de formação se, durante um período de três anos, ele demonstrar equilíbrio na sua sexualidade.
Um sinal de que o candidato não adquiriu o próprio equilíbrio sexual pode ser o fato de ele frequentar determinados ambientes, na internet ou na vida real, que favorecem comportamentos sexuais anômalos, como a pedofilia, por exemplo. Na minha opinião, o vínculo com esses ambientes pode ser um critério objetivo de impedimento ao sacerdócio, porque é um sinal de que o indivíduo está muito dividido e não pode assumir uma responsabilidade presbiteral sobre outras pessoas.


Mas como, na maioria dos casos, o problema costuma aparecer depois da ordenação, eu creio que, nesse caso, é preciso usar o critério da justiça e o critério da caridade. Porque onde não há caridade, não existe justiça.
A justiça nesse campo significa dizer ao padre que cometeu esse erro: "Você precisa ser punido, precisa ser suspenso da ordem, mas queremos lhe ajudar a encontrar o próprio equilíbrio afetivo e sexual". E, depois, encaminhá-lo para um tratamento adequado. Além disso, é preciso ter atenção à vítima. A Igreja tem de ajudá-la.



O senhor não acha que o problema da pedofilia está ligado também ao estilo de vida muito solitário do padre, que vive sozinho os seus dramas pessoais?



Certamente! Onde você se sente acolhido, respeitado, prestando um serviço adequado você não vai, com tanta facilidade, incidir em comportamentos anômalos.
A relação de amizade e de respeito com o sacerdote é preventiva, porque pode ajudar o padre que tem uma labilidade na afetividade sexual a não incidir em comportamentos anômalos. Numa vida de verdadeira comunidade, o padre se sente fortalecido. Então, é preciso criar comunidades adultas, onde há respeito, há espírito de serviço e de partilha e há uma espiritualidade verdadeira.


A satisfação que o padre aufere do trabalho, do serviço que presta à comunidade o realiza sexualmente tanto ou mais que o casamento, do que uma vida sexual ativa. E quem afirma isso é Freud que, quando escrevia um de seus livros, ficou vários anos sem ter relações sexuais com a mulher, porque - segundo ele - estava concentrado naquele trabalho. Ele acaba defendendo o celibato para o cientista.
Segundo Freud, a sexualidade do ser humano não é dirigida apenas a uma satisfação biológica.



Como o senhor, pessoalmente, encara esse momento que a Igreja vive?



Eu acho que a Igreja atravessa uma situação de crise. Mas toda situação de crise leva, de alguma maneira, a uma maior transparência e à penitência verdadeira. Pode nos levar a bater no peito e a dizer: "Nós não somos santos, somos pecadores". Aliás, é isso que o padre, com toda a comunidade, faz no começo de cada missa.
Foi muito importante a atitude do papa de pedir perdão aos irlandeses pelos casos de pedofilia envolvendo padres daquele país. Ele não pecou. O pecado é do padre que cometeu o erro, mas a comunidade toda tem de pedir perdão. Porque onde sofre um irmão, sofremos todos nós; onde um irmão cresce, crescemos todos nós.


Atualmente, há um advogado nos Estados Unidos que quer levar o papa ao tribunal por causa dos casos de pedofilia nos Estados Unidos. O Direito Internacional permite isso. É muito estranho: o papa pode virar o bode expiatório numa crise que é da humanidade inteira.

"É preciso entender o problema da pedofilia no ser humano, na cultura ocidental, na cultura brasileira, inclusive no âmbito da antropologia"

"Atualmente, existe uma permissividade muito grande, uma grande pluralidade de comportamentos. Isso mexeu com o desenvolvimento da pessoa, que compreende a afetividade e a sexualidade"

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Os artigos desta seção podem ser reproduzidos parcial ou totalmente desde que sejam citados a fonte e o autor. Imagens: só com autorização escrita da Editora Cidade Nova.

Fonte: http://www.cidadenova.org.br/RevistaCidadeNova/ArtigoDetalhe.aspx?id=3865
Autor:  José Antônio Faro
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