Padre José Borsato

O mês de outubro teve seu fim deixando uma marca muito triste para a Igreja Católica e para a Diocese de Luziânia.


A triste morte de Padre José Borsato foi a dolorosa perda de um profeta em nossa diocese, e em particular para o povo de Cristalina, onde Padre José doou grande parte do seu sacerdócio. Nos quase 40 anos de pároco de Cristalina ele deixou marcas profunda no coração daquela gente.

Quando chegou em Cristalina a cidade tinha apenas uma Igreja e uma população pequena e de muita pobreza. Os tempos eram difíceis, o país vivia adentrado em uma inflação, desemprego as condições do povo eram sub-humanas.

Ele, Padre jovem, não mediu esforço para estender o trabalho evangelizador levando Cristo ao povo, apresentando a todos a vida com Cristo como o encontro do caminho da felicidade.

Ao ir ao encontro do povo para anunciar o Cristo Ele percebeu a miséria, o descaso com os mais pobres, a falta de dignidade humana, bem como a dificuldade do acesso a educação da criança mais carente.

Assim começava ali uma batalha do jovem padre. Não podia ele apresentar só o pão espiritual, pois o povo tinha fome também do pão que mata a fome da carne.


Dessa forma, iniciou a implantação das creches em favor das comunidades carentes e parecia que quanto mais construía, mais aparecia necessidades e ao longo de 40 anos construiu aproximadamente 8 creches.

Vendo o avanço da marginalidade, não mediu esforços para implantar o centro artesanal, onde adolescentes podiam produzir arte em pedras, por terem ali uma abundância de cristais. E a obra avançou adolescentes saíam das ruas e produziam varias peças artesanais que eram vendidas e a arrecadação do dinheiro era dividida em partes iguais, assim muitos adolescentes ajudavam suas mães e adquiriam a dignidade humana.

Mas seu amor pelo povo de Cristalina não era só com os adolescentes e crianças, percebendo os inúmeros idosos abandonados, deu início ao lar dos velhinhos e hoje um grande número de idosos encontram abrigo em mais uma obra de Padre José, o missionário de Deus.

No processo de evangelizar , ele criou as quadras esportivas onde crianças católicas podiam praticar esportes e participarem da catequese adquirindo assim uma vida cristã profunda.




A cidade crescia e ele rapidamente implantava comunidades de base e depois capelas para atender a comunidade, assim construiu mais de 12 capelas e igrejas por todo o município, incansável ele não parava e continuava se doando à comunidade de Cristalina.



Contava dona Neguinha, já falecida, que certa vez passando pela rua viu padre José cuidando do jardim externo da igreja de repente ele sentou- se na escadaria, ela percebeu certa tristeza e preocupada aproximou-se do santo padre e perguntou: “Padre José, o senhor está triste, doente o que está acontecendo? Precisas de algo? Me peça e eu providenciarei para o senhor. Ele ergueu seu olhar pacífico, cansado e disse: “É que até agora nada comi, é domingo e não tenho nada para comer, mas se puder me dar uma maçã, agradeço.” Contava dona Neguinha que seu coração estremeceu, foi para casa e preparou comida e a maçã desejada pelo nosso Santo Padre José. Depois deste episódio, dona Neguinha passou a levar lanche e a dita maçã todos os domingos para a casa paroquial e assim esta santa mulher procedeu durante anos, até a sua morte. Morreu cuidando dos padres.

Emocionante, mas como um verdadeiro missionário, passou fome como muitos pobres daquela pequena e pobre cidade. Doou-se e a idade foi avançando, o cansaço era claro ao seu rosto, mas era pleno o olhar na face daquele velho padre, como se dizia pela cidade “Na face de Padre José se vê a face de Cristo.”


Sua espiritualidade, sua vivência de fé era tão profunda que Padre José com seu olhar, passos lentos, aparência de timidez transmitia o Cristo a todos que o olhavam.

Já com pouca saúde e com várias dores que ele escondia de todos, se consumia em favor de todos, pobres e ricos, sábios e não sábios, brancos e negros enfim em favor de todos cristalinenses, e já nos tempos de velhice ainda edificou duas escolas em benefício da comunidade.

Chegados alto do mês de Julho partiu de férias para sua terra natal, a velha Itália, ao chegar naquelas terras descobriu o câncer e iniciou seu calvário. O velho e cansado padre de Cristalina, cansado, fraco, mas apaixonado por Jesus sabia que não lhe restaria muito tempo neste mundo.

Quando as dores terríveis do câncer lhe destruíam, ele oferecia a Deus todo aquele sofrimento em favor do povo de Cristalina. Como um bom pároco, se doava à sua querida paróquia e ao rebanho que Deus lhe havia confiado.


Um dia antes de sua morte suas palavras levaram a conhecimento de todos uma surpreendente declaração de amor.

Disse ele a sua médica: “Doutora ofereço esta pedra que veio da minha terra (Um cristal), da minha cidade. Esta pedra é da minha cidade Cristalina no Brasil. Doutora , não sofro tanto pelo câncer, nem por estas dores terríveis, sofro muito mais em deixar a minha terra, a minha gente.”

Esta foi a mais linda declaração de amor de um padre por um povo, um ato que brota do próprio Jesus que faz isto com a gente.

Queria ter escrito este artigo há mais tempo, mas não consegui, pois sofro como todo povo de Cristalina pela perda irreparável de Padre José. O missionário santo de cristalina.


Hoje sou padre, e ver o exemplo de Padre José me dá forças para continuar fazer acontecer o reino de Deus neste mundo.

Padre José foi um verdadeiro propagador do reino de Deus e nunca deixou calar a voz de Deus neste mundo, com suas pregações e testemunho e um exemplo claro de quem soube amar e amar sempre.

Padre Marcelo José Vieira Júnior
PASCOM